Língua Inglesa: um dos gargalos da Zootecnia Científica Brasileira
- J.P.F. Rufino
- 2 de jan. de 2018
- 5 min de leitura
Bom, continuando as argumentações iniciadas no primeiro post, hoje trago à tona a temática relacionada aos problemas existentes nas Universidades e centros de pesquisa quanto ao entendimento e fluência na língua inglesa.
Inicialmente, tem-se em vista que a realidade da educação brasileira, principalmente no ensino básico, apresentou relativa evolução nos últimos anos, sendo o acesso ao estudo básico da língua inglesa uma realidade muito mais presente nas escolas de ensino fundamental e médio do que em outros tempos.
Neste contexto, supõe-se que os alunos, ao ingressarem na Universidade, tenham maior afinidade e facilidade ao absorver textos e se comunicar em inglês. Todavia, esta não é a realidade que estamos constatando no atual cenário da educação superior brasileira.
Experimente você professor/pesquisador, solicitar aos seus alunos a leitura e interpretação de textos na língua inglesa! Certamente será instalada uma revolta geral, podendo inclusive esta problemática atingir discussões em instâncias superiores da Universidade. Pode parecer totalmente ridículo e fora de contexto o que estou relatando aqui, mas esta é a mais pura realidade que tem-se constatado na área de Zootecnia, e certamente em outras áreas, correlacionadas ou não com a mesma.
O acadêmico, mesmo possuindo domínio e fluência na língua inglesa, encontra-se totalmente perdido ao ser solicitado para leitura e interpretação de um artigo em língua inglesa. Este cenário atual foi construído em cima de várias falhas e problemáticas do sistema defasado e falho de ensino brasileiro, dentre os quais eu destaco os seguintes pontos:
O nível, metodologia e qualidade do ensino da língua inglesa que é disponibilizado aos alunos, desde o ensino básico. Além, certamente, do nível de interesse e comprometimento dos alunos, que na sua maioria, encontra-se em escalas baixas;
A própria mentalidade do acadêmico que ingressa na Universidade, que atualmente encontra-se mais ligada a questões políticas ou problemáticas chulas e sem nexo, do que o foco no que deveria ser a sua prioridade número um ao ingressar em uma instituição de ensino superior: uma boa formação acadêmica que possa lhe garantir um ingresso adequado no mercado de trabalho ou no meio acadêmico/científico, além de lhe formar como um cidadão que contribua para a sociedade e uma mente esclarecida (como o próprio título sugere: ENSINO SUPERIOR). Lembre-se sempre: bons profissionais JAMAIS ficam sem trabalhar, péssimos profissionais encontram sempre motivos para reclamar e justificar sua incompetência;
A falta de interesse em leitura de textos e prática de conversação na língua inglesa a fim de aperfeiçoar seus conceitos e conteúdos relacionados a sua área de estudo/trabalho, proporcionando um crescimento substancial do seu desenvolvimento intelectual.
Eu poderia ficar aqui por dias destacando inúmeros motivos que levam o acadêmico a encontrar-se na situação que temos constatado nos cursos de graduação nas Universidades Brasileiras. Todavia, o sistema, mesmo com seus defeitos, vem tendo iniciativas fora do Plano Base que visam, de certa forma, auxiliar a preencher estas lacunas intelectuais, sendo a que eu considero a melhor delas, a disponibilização maciça de bolsas para a realização de intercâmbios em diversos países do mundo, nas melhores instituições de ensino referenciais nas suas respectivas áreas do conhecimento.
Outrora, volto a frisar, o acadêmico brasileiro, mesmo que ainda haja tempo para um amadurecimento e construção de um pensamento científico correto, chega na educação superior com diversos vícios, como os destacados nos tópicos anteriores. E uma realidade que eu tenho constatado, é que muitos acadêmicos estão indo para o intercâmbio, deixando os estudos em segundo plano (sendo que estes deveriam ser a prioridade e real motivo da viagem), consequentemente reprovando em todas as disciplinas (e indiretamente denegrindo a imagem do ensino e do estudante brasileiro mundo afora), e transformando o que deveria ser uma experiência para enriquecimento intelectual, em férias pagas com dinheiro público (principalmente pela Europa). E o pior de tudo, mesmo que ele volte para o Brasil com relativo domínio da linguística, ele ainda encontra-se em estágio amador de leitura, interpretação, contextualização e construção de textos técnico-científicos. É uma realidade difícil de compreender, mas é o que tem-se constatado atualmente.
Vale ressaltar que, mesmo com todos estes problemas, muitos alunos passam pela graduação sem problemas, e tornam-se bons profissionais na área de Zootecnia. Porém, quando elevamos o nível e nos voltamos a Pós-Graduação, o cenário é mais aterrador.
Primeiramente, destaco que existe um nível muito elevado de analfabetismo científico internacional no contexto geral da Pós-Graduação brasileira na área de Zootecnia, sendo esta compartilhada entre discentes e docentes. Os discentes (futuros docentes), que contribuem em maior quantidade para esta problemática, muitas vezes são aprovados no exame de proficiência em língua estrangeira, mas sentem uma dificuldade terrível quando se deparam com a metodologia de atuação de uma Pós-Graduação. Destaco também que NÃO EXISTE QUAISQUER POSSIBILIDADES DE SE REALIZAR PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NO BRASIL SEM QUE O ACADÊMICO/PESQUISADOR TENHA CONTATO DIRETO COM A LEITURA, INTERPRETAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DE LITERATURA ESTRANGEIRA, PRINCIPALMENTE EM LÍNGUA INGLESA.
Mesmo diante deste conceito, é muito preocupante o quadro observado, pois diariamente acadêmicos, jovens pesquisadores e docentes possuem dificuldades em atividades que deveriam ser corriqueiras para um sistema de pesquisa e produção científica, como: leitura e interpretação de artigos em língua inglesa, construção e publicação de artigos em língua inglesa, realização de pesquisas em conjunto com instituições de ensino em outros países (o denominado processo de Internacionalização da Pós-Graduação), a comunicação com discentes, docentes e pesquisadores de outras instituições, dentre outras.
Muitas vezes, a realização de intercâmbios e doutorados-sanduíche em instituições de pesquisa no exterior podem e devem corrigir estas problemáticas, e, na minha concepção, deveriam ser melhor aproveitadas pelos acadêmicos de mestrado e doutorado, pois apresentam um caminho viável e extremamente eficiente para auxiliar no processo de formação científica, conceitual e social de um jovem pesquisador. Como diz a frase: para formação de um pesquisador, é melhor passar uma temporada de seis meses ou um ano no exterior, do que gastar tempo e dinheiro em quatro anos de cursinho.
Para término de raciocínio, destaco ainda que se o aluno não tiver uma base na educação básica, ele não chegará com boa formação no ensino médio, o que entregará um acadêmico despreparado e desinteressado na graduação. E quando este enveredar por níveis mais elevados de estudo e formação intelectual, terá ainda mais dificuldades com as barreiras promovidas pela língua inglesa. Então, não perca tempo, comece desde hoje a refletir, ler artigos, estudar, se aperfeiçoar e aprofundar seus conhecimentos na língua inglesa básica, técnica e acadêmica, pois todas estas vos levarão a formação de um bom profissional.
Enfim, deixo como último ponto de reflexão: o sistema realmente é tão falho como pensamos, ou o próprio acadêmico, no alto do seu desinteresse torna o mesmo ineficiente? O acadêmico poderia aproveitar melhor as oportunidades que lhes são favorecidas ou deve continuar reclamando quando o professor/pesquisador o tira de sua zona de conforto? Como você poderá se tornar um bom pesquisador sem domínio da língua estrangeira, principalmente língua inglesa?

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